Para aqueles que não sabem informo que já sou um "jovem" sénior há uns bons anos para cá. Desta forma todos os anos, aliás de dois em dois, tenho de renovar a carta de condução portuguesa de veículos ligeiros que desde os meus 18 anos possuo. Há dois anos renovei-a e, como é mandatário, lá fui ao médico para preenchimento do devido documento, o chamado atestado médico. Saiu-me da algibeira 50 euros não contando com os outros emolumentos, fotos, deslocações e a paciência quase a esgotar-se de mais de três horas de espera numa clínica de saúde duma organização de Bombeiros Voluntários.
No corrente ano, no passado mês de Maio, encontrando-me em Portugal, lá marquei outra consulta desta num posto de saúde duma Junta de Freguesia e após pagar 5 euros lá fui visto pelo clínico. Aqui é que começou a minha saga pois o médico após saber, ou ver o papel para o preenchimento e assinar, penso que começou, de imediato, a torcer o nariz. Fez-me mil e uma pergunta sobre a minha saúde e no fim, não satisfeito possivelmente ou de não tomar como de boa fé as minhas respostas, mandou-me, porque assim achava por bem, tirar uma série de análises onde até a minha próstata - por uma análise PSA - estava no rolo de solicitação. É que até aqui não sabia que aquele meu órgão anatómico, bem atrás dos tim-tins masculinos, tinha alguma influência na condução de veículos com motor e, possivelmente, tem algo haver com o acelerar e o travar nas rotundas. Mas, um momento por favor.
Não ficamos por aqui, pois havia mais testes requisitados naqueles papéis como do Colesterol S/L e HDL, da Creatinina (este para verem se ando a desidratar pelas esquinas), a contagem de Plaquetas (esta to make sure de não haver perigo de sangrar até ao ultimo pingo...), do grau de Glucose (se estou abarrotar de açúcar - os chamados diabéticos). Mas para minha desgraça havia mais exames como a Velocidade de Sedimentação (tempo de coagulação), o TGO, ou Aminotransferase do Aspartato, o Acido Úrico, mais os Triglicéridos, também da Ureia e nem o Xixi - a urina, desculpem, escapou. Outro exame, o ECG simples de 12 derivações, que francamente não sei o que é (sou muito fraco na disciplina de medicina) mas que penso pela palavra que deve ser algo relacionado com o meu EGO, dado à indicação ser no campo de cardiologia, ou coração. Já, após ficar meio abananado com tantos exames que me ia ficar, quiçá, em mais de 30 euros, penso, e em taxas moderadoras (as taxas que nos lixam lá em Portugal no sistema de saúde), ao despedir-me, informou-me que possivelmente depois teria uma consulta de oftalmologia (especialidade do olho) pois usava óculos.
Puxa. Vá lá que não falei das minhas hemorroidas assanhadas pelas brutas feijoadas à transmontana que por vezes degusto senão lá estaria convocado para ir a outro especialista de proctologia ou de doenças gastrointestinais ou na pior das hipóteses levava logo, ali mesmo, com o "famigerado" dedo na apalpadela da ordem para colocar as veias no seu devido lugar.
Bom. Finalmente, e muito deprimido, cabisbaixo, saí do Centro de Saúde e mandei logo lixar, com urtigas, todos esses exames que aquele médico aberradamente exigia para uma simples examinação para renovação da minha carta de condução. Dias depois regressei ao Canadá.
Só sei dizer que tais exames não me iriam ficar nada baratos, com a examinação dos olhos, tudo, segundo meus cálculos, na totalidade, ultrapassaria os 120 euros. Isto, na minha opinião, para um "velho" reformado é muito dinheiro. Agora vejam os nossos compatriotas da terceira idade o martírio, e "sangria" económica, de irem para esses testes como me foi exigido. Falo só no que concerne ao dinheiro. Será que esta táctica talvez seja de dar trabalho, pelo grande desemprego que nos tem afectado nestes últimos tempos, às especialidades laboratoriais de RX e Análises Clínicas ou será que não querem os velhos a conduzir mas sim nos transportes públicos?
Desconhece o senhor Ministro que a grande maioria dos nossos reformados vive apenas com 200 e 300 euros mensais? Simplesmente ridículo. E ainda se dão à libertinagem de exigirem exames "luxuosos" onde os velhotes irão despender nesses testes clínicos quase um mês da magra pensão que auferem.
O referido atestado exige apenas que o requerente tem aptidão física e mental para a condução de veículos e nada mais por que razão então exigir tantos exames, como à próstata e a outros órgãos?
É que se formos por esta ordem mais de 75 por cento da gente reformada e da terceira idade (os velhotes) teriam as suas cartas de conduzir revocadas pelo Ministro devido a diabetes, próstata, hemorroidas, varizes, reumatoide crónica e aguda, angina de peito, asma, colesterol alto, pedras nos rins, na vesicula e na bexiga, enfizema, câncer, ou xixi muito amarelo e muitos outros problemas clínicos que necessitava de 4 ou 5 folhas para os descrever na totalidade. Desta forma, penso, que só uma "meia dúzia" de velhotes escapariam a terem as cartas suspensas pelo Ministro dos Transportes se formos a ver pela ótica de não fazerem parte daqueles 100 por cento "saudáveis".
É uma vergonha senhor Ministro. Já não se pode ser velho em Portugal. Será que foi para isto que se deu o 25 de Abril de 1974? Ou será que também que tal exigência seja imposta pela tão falada, e odiada, Troika?
Claro que tenho a papelada comigo comprovativa deste meu desabafo. Se o senhor Ministro quiser averiguar é só pedir-me que a envio de imediato, se por acaso estiver interessado (?), obviamente. Assim se evitaria situações semelhantes no futuro nesses centros médicos perante o preenchimento clinico desses atestados, que eu chamo "complicados" e "onerosos".
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